“Summertime, and the livin’ is easy” (Summertime, George Gershwin)
Panorama global de julho de 2016
Verão no hemisfério norte é a estação em que operadores trocam seus postos por de trás das muralhas de telas digitais, pela brisa à sombra de coqueiros em paraísos distantes. Com as mesas de operação abandonadas, os mercados – que, apenas semanas antes, haviam atingido picos febris no episódio da anulação do impeachment e, em seguida, no “Brexit” (ver cartas de maio e junho) – entram em estado de letargia, alheios ao mundo e suas mazelas.
Mas se investidores se ausentam em julho para um dolce far niente, não é por falta de eventos dramáticos, mesmo trágicos, em outras esferas da vida. A Europa voltou a ser vítima do terror em múltiplos atentados – o maior deles, em Nice na França, causando oitenta mortes e dezenas de feridos. Na Turquia o governo Erdogan, que há anos flerta com um retrocesso autoritário, sofreu uma fracassada tentativa de golpe militar que, desbaratada, serviu de pretexto para promover o maior expurgo da história republicana turca. Nos EUA o mundo assistiu, pávido, a um candidato-bufão destilar rancor, ódio, intolerância e mal disfarçado racismo em sua campanha rumo à Casa Branca.
…enquanto isso, no Brasil
No Brasil, que perambula em estado de suspensão animada enquanto aguarda o desfecho do processo impeachment da presidente Dilma Rousseff, foi bem recebida a eleição do deputado Rodrigo Maia à liderança do congresso. Maia é um raro exemplo no Brasil de político alinhado à direita, vindo do que de mais próximo existe no país a um partido com ideário liberal e opositor ideológico das políticas intervencionistas e expansionistas dos governos petistas. Maia assume comprometido com a agenda de reformas do governo interino, injetando novo ânimo num ambiente em que surgem sinais de impaciência com a falta de realizações concretas bem como frustração com as generosas concessões ao congresso, estados e funcionalismo feitas por Temer. Em outra frente, o marqueteiro do PT João Santana confessou ter recebido pagamentos via “caixa dois” nas três últimas campanhas petistas, desferindo o que parece ser o tiro de misericórdia sobre as ambições da presidente de retornar ao cargo. De fato, com as novas delações e os sinais incipientes de recuperação na economia, o afastamento definitivo da presidente em votação a ser realizada no final de agosto parece quase certo. Significativa, também, a elevação a condição de réu do mentor e aliado da presidente, o ex-presidente Lula, acusado de obstrução de justiça numa malfadada tentativa de comprar o silêncio do delator Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobrás preso por corrupção (ver carta de novembro). Parece sintomático de um lento retorno à normalidade na vida política brasileira que a admissão do processo contra Lula tenha despertado menos paixões na sociedade do que a condução do ex-presidente para interrogatório pela polícia, há alguns meses. Aquele episódio gerou grande repercussão e muitos protestos por parte de militantes, simpatizantes, etc. Desta feita, o evento mal rendeu manchete nos jornais e rapidamente saiu de pauta. Sintomática, também, a baixa adesão às manifestações pró e contra impeachment realizadas neste julho (que reuniram algumas centenas de milhares, contra milhões pelo impeachment em março). Teriam os manifestantes, tal como os investidores, saído de férias? Mais provável que estejam exaustos dessa já longa saga política e anseiem, enfim, por virar a página e mirar o futuro. Como escreveu Gustavo Franco em artigo recente:
“Por ora, enquanto o dia amanhece, já é possível enxergar uns vultos importantes que o nevoeiro ideológico vinha mantendo encobertos. Já se fala com sobriedade e equilíbrio sobre reformas trabalhistas, na Previdência e em privatizações. E também, entre tantas possibilidades, em mudar o absurdo funcionamento do FGTS, eliminar o imposto sindical, lipoaspirar o sistema “S”, rever a gratuidade das universidades públicas. Quem sabe também terminem com a Hora do Brasil, com a tomada de três pinos (que merecia uma CPI) e com o serviço militar obrigatório!
Subitamente, o horizonte ficou limpo, tudo é possível, ou ao menos discutível, e as pessoas, ao menos os visionários, querem acelerar o tempo (…) O País precisa de competição, meritocracia, produtividade e do primado do talento (…)”
(“Encanamentos”, Estadão 31 jul 16)
Desempenho julho de 2016: Fundo Zarathustra
Para o fundo Giant Zarathustra FIM, julho começou com um revés nos modelos de tendência, na sequência da decisão do Conselho Monetário Nacional sobre a meta de inflação de 2018 (ver carta de junho). O mau resultado inicial foi sendo gradualmente reduzido, contudo, à medida que os demais modelos acumulavam resultados positivos – com destaque para o modelo de cointegração. No agregado, o mês fechou com resultado de -0,24%.
Veja os dados consolidados do fundo