“Life […] is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.”
William Shakespeare, Macbeth
Resultados dos fundos
O fundo Zarathustra FIC FIM rendeu 2,07% (167% do CDI no período) no trimestre e fechou o ano com retorno de 11,00% (184% do CDI) acumulado em 2019. Os destaques positivos do último trimestre foram as bolsas, brasileira e internacionais, e juros locais. Juros internacionais foram a maior contribuição negativa do período. O fundo Sigma FIC FIM rendeu 2,12% no quarto trimestre (171% do CDI no período) e 16,77% acumulado no ano (281% do CDI) de 2019. Os maiores ganhos vieram de estratégias em bolsa local e global e juros reais. Destacamos o início de operação da estratégia de commodities, que também teve importante contribuição positiva ao resultado do trimestre. As maiores perdas vieram de juros em países do G-10 e moedas. O fundo segue com alocação de risco parcialmente reduzida.
Contexto nacional – 2019
Se o final da temporada 2019 não foi recheada de drama como 2018 (um espetáculo cheio de som e fúria, significando nada)1, não faltou ao último ato do ano um clímax apoteótico, embalado pela recuperação cíclica da economia que, enfim, se fez notar. Iniciada na virada do semestre, com a aprovação da reforma da Previdência, a retomada econômica deslanchou de vez no último trimestre, com o afrouxamento de juros pelo Banco Central, o aumento do crédito imobiliário e a liberação dos saques do FGTS. O resultado foi o melhor Natal dos últimos cinco anos, com vendas de varejo quase 10% acima de 20182; vendas de veículos3 e linha branca, respectivamente, 12% e 15% acima de dezembro de 2018; venda de imóveis residenciais novos na cidade de São Paulo mais de 60% (!!!) sobre 20184 (acum. até outubro).
A bolsa, que vinha galgando degraus desde o início do ano, bateu recorde em dezembro (ainda que, como lembram os otimistas, permaneça 35% abaixo do recorde em dólar). As taxas de juros caíram ao menor nível da história, com a SELIC fechando o ano em 4,5% — taxa de juro real (ex-ante) pouco abaixo de 1%. É certo que o ambiente externo de juros extremamente baixos (e até negativos) contribuiu para este feliz desfecho. Mas não se pode deixar de creditar o mix de políticas econômicas — monetária e fiscal — fundamentalmente mais sãs, iniciadas no governo Temer e mantidas sob Bolsonaro. Os que viveram os anos 90 e 00 (e mesmo anos recentes), período em que o Brasil rotineiramente ostentava juros de dois dígitos e figurava entre os campeões mundiais na modalidade juro real, sabem apreciar o significado dessa conquista (link 9). Ao contrário de outros episódios de juros baixos, que se mostraram efêmeros, o presente tombo parece ter vindo para ficar. Um ambiente de juros moderados, comparáveis aos praticados no resto do mundo, pode representar uma mudança sísmica não apenas na economia (imagine: cheque especial sem juros de agiota!) como para as contas fiscais. De fato, o secretário Mansueto de Almeida prevê uma economia de centenas de bilhões de reais para o Tesouro em 2020 por conta na queda do juro5.
O final do ano teve também sua cota de dissabores: puxada pela alta da carne — consequência da febre suína, que dizimou 40% do rebanho chinês e fez disparar o preço de proteína animal no mundo — a inflação6 de dezembro ficou acima de 1%, frustrando a expectativa de que o IPCA terminasse o ano abaixo de 4% (ainda assim, ficou abaixo da meta de 4,25%). O choque da carne e outros preços dolarizados (combustíveis), combinado a indícios de aquecimento (aluguéis comerciais) e gargalos (fretes rodoviários) em alguns setores levou o COPOM a adotar cautela e sinalizar interrupção no ciclo de queda de juros em sua última reunião do ano. A curva de juros inclinada indica que o mercado espera aumento da SELIC ainda em 2020. Seja como for, o nível ainda elevado de desemprego (11,6% em novembro) sugere que a inflação continuará confortavelmente próximo da meta no horizonte visível.
Contexto internacional – 2019
O dólar, que em novembro atingiu sua máxima cotação, 4,2675 (embora, corrigido pela inflação, bem abaixo do nível alcançado em 2002) antes de recuar em dezembro, também foi um desmancha-prazeres. Uma conjunção de fatores explica o movimento altista: aversão a risco global, com as idas e vindas do conflito comercial sino-americano; o fraco desempenho das exportações brasileiras7; contaminação da Argentina, que elegeu um governo hostil a reformas liberalizantes, são alguns. Talvez o fator decisivo, contudo, tenha sido a queda do juro local, que reduziu a diferença entre os juros no exterior e o local e, tudo mais constante, torna menos atraente o chamado “carry trade” para investidores estrangeiros; a queda dos juros precipitou um movimento de troca de dívida externa por dívida local entre empresas brasileiras, o que também contribuiu para o enfraquecimento do real.
Enquanto algumas personagens continuaram a assombrar os palcos como fantasmas de natais passados — vale dizer, a longa e tortuosa disputa comercial entre EUA e China — outras saíram silenciosamente de cena. A ameaça de recessão, prenunciada pela inversão da curva de juros americana, não se materializou e foi arquivada até segundo aviso. Houve reviravoltas inesperadas de enredo: o presidente Trump, que parecia ter escapado ileso da investigação sobre seu envolvimento com agentes russos durante a campanha presidencial, acabou se enredando em outro (mais um) escândalo — este, envolvendo extorsão ao governo da Ucrânia — pelo qual foi impichado na Câmara e aguarda julgamento no Senado. Para não deixar por menos, o ano novo começou com um estrondo: o assassinato ordenado pelos EUA de um alto militar iraniano — e todos os seus desdobramentos. 2020 promete…
Por Jorge Larangeira
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Referências:
- https://gscap.com.br/carta-aos-cotistas-4q18/
- https://veja.abril.com.br/economia/vendas-no-natal-disparam-95-melhor-resultado-desde-2014/#
- https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/01/02/venda-de-veiculos-no-pais-cresce-1048percent-em-2019-diz-fenabrave.ghtml
- http://indiceseconomicos.secovi.com.br/indicadormensal.php?idindicador=90#
- https://valor.globo.com/brasil/coluna/o-ano-em-que-os-juros-foram-jogados-ao-chao.ghtml
- https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/26443-ipca-15-acelera-para-1-05-em-dezembro-maior-resultado-para-o-mes-desde-2015
- https://valor.globo.com/brasil/noticia/2020/01/02/balanca-comercial-tem-superavit-de-us-46674-bilhoes-em-2019.ghtml
- https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/26302-sp-puxa-alta-da-producao-industrial-em-outubro-mas-go-e-am-tem-maior-avanco
- https://valor.globo.com/financas/noticia/2020/01/02/fluxo-cambial-tem-saida-liquida-de-us-3445-bilhoes-na-semana-passada.ghtml
- https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/01/02/mercado-de-escritorios-favorece-mais-proprietario.ghtml