Carta aos cotistas (Out/16)

“Come senators, congressmen /Please heed the call /Don’t stand in the doorway /Don’t block up the hall (…) /For the times they are a-changin’.” (Bob Dylan)

O início de um ciclo de afrouxamento monetário?

Outubro foi mais um mês em que as ações, emanações e insondáveis humores dos bancos centrais, no Brasil e no mundo, deram o tom aos mercados. Os astros estavam alinhados para o Banco Central do Brasil realizar o primeiro corte de juros em quatro anos (inflação corrente batendo recordes de baixa, expectativas de inflação futura em queda, redução de preço de combustíveis, etc) e o BC não decepcionou: reduziu a SELIC a 14,00%. Mas o corte foi de apenas 25bps (boa parte do mercado apostava em 50bps) e o discurso – gradualista, acompanhado de mil ressalvas e condicionalidades – sugere que o ciclo será mais modesto do que se supunha. Um balde água fria, enfim. De fato, nos dias seguintes ao corte, a curva de juros reagiu com forte alta de 30-40bps (lembrando que o BC fixa apenas a SELIC; juros de longo prazo são determinados pelo mercado e podem andar na contramão da SELIC).

Os dois bancos centrais mais importantes do mundo, FED e BCE, continuaram a assombrar os mercados com ameaças – veladas ou não – de finalmente encerrar a farra de liquidez abundante e sem custo, conhecida como “afrouxamento quantitativo” (quantitative easing). Há temor de que o longo período de juros zero infle bolhas e comprometa a saúde de bancos e fundos de pensão (Carta de setembro de 2016). Deus sabe que FED e BCE gostariam de subir juros. Mas a economia, morna na melhor hipótese e sem sinal de inflação, teima em não fornecer justificativa para tanto. O FED deve subir em dezembro, assim mesmo.

O Governo Temer inicia a aprovação de projetos

Ao contrário da política americana (em que a corrida presidencial é fonte de grande ansiedade), a politica doméstica permanece em segundo plano, ainda que o mercado tenha celebrado a aprovação da PEC 241 – emenda constitucional que estabelece teto real zero para o crescimento do gasto público, aprovada com folga na câmara em clara demonstração de força do novo governo (que, em termos de capacidade de articulação, se mostra anos-luz à frente da gestão anterior). Tampouco passou despercebido o resultado das eleições municipais, emblemáticas pelo fraco desempenho das siglas de esquerda. Se as eleições municipais não chegaram a afetar mercados, não faltaram analistas nelas buscando pistas para a eleição que verdadeiramente importa, a presidencial de 2018. A característica saliente dessas eleições foi a maciça rejeição do eleitorado às legendas de esquerda – em particular ao PT, que perdeu dois terços das prefeituras sob seu comando e amargou queda de 85% no total de votos, em relação a 2012. A punição das urnas não surpreende, uma vez que o PT tenha virado símbolo da corrupção politica e alvo preferencial da indignação popular. O repúdio à corrupção, porém, não conta toda a história. PMDB e PP, ambos envolvidos até a raiz no Petrolão, mas mais alinhados à direita, pouco ou nenhum prejuízo eleitoral sofreram. A exemplo do que ocorre no resto do subcontinente, também no Brasil o pêndulo tornou a guinar à direita. Do ponto de vista sociológico, talvez a característica mais interessante dessas eleições tenha sido o surgimento de um discurso técnico, meritocrático, e enaltecedor da virtude fiscal – bandeiras que, num país de forte tradição populista, jamais renderam votos no passado – assim que o prefeito eleito de São Paulo recrute notáveis do setor privado para seu gabinete e prepare privatizações, o de Porto Alegre fale em cortar secretarias e buscar “resultados” e o do Rio de Janeiro, um bispo evangélico do PRB, faça coro ao governo federal anunciando que “o número de secretarias será menos da metade. O Rio de Janeiro vai exigir de todos nós um governo técnico, austero, transparente e, acima de tudo, honesto”.

Delação do fim do mundo

O contraponto a esses sinais auspiciosos é o crescente ruído em torno da nova fornada de delações de executivos da Odebrecht, apelidada pela imprensa de “delação do fim do mundo” (pois implicaria centenas de políticos em financiamentos irregulares de campanha). Dentre os supostamente implicados, vários membros graúdos do governo Temer (senão o próprio). Até o momento, o mercado tem demonstrado notável frieza diante da possibilidade de que as delações desestabilizem o governo e interrompam a tramitação das reformas no congresso. Por trás dessa fleugma, há a crença de que: a) Temer não esteja diretamente envolvido em irregularidades e, b) ainda que esteja, o cálculo de que, com pouco mais de dois anos de mandato restando a Temer, o STF – a quem caberia julgar o presidente – abster-se-ia de mexer no vespeiro político. Quando mais não fosse, por puro pragmatismo: é certo que nova crise política seria um tiro de misericórdia na combalida economia brasileira, escancarando as portas a aventureiros de todos os naipes nas eleições de 2018.

Merece destaque ainda o sucesso do programa de repatriação de capitais, que culminou em significativa entrada de divisas e R$ 51 bilhões aos cofres do governo. A entrada foi responsável pela queda do dólar ao longo das três primeiras semanas do mês, trajetória só interrompida com divulgação de pesquisas apontando aumento nas intenções de voto em Trump, agora tecnicamente empatado com Clinton.

Desempenho outubro de 2016: Fundo Zarathustra

Outubro foi outro mês desafiador para os modelos de tendência, que tiveram bom desempenho nas primeiras três semanas apenas para amargarem forte reversão na última. O destaque positivo foi o modelo de juros cambiais, que capturou efeito dos fluxos de repatriação. No agregado, Giant Zarathustra FICFIM retornou -0,97% no mês.

Veja os dados consolidados do fundo

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